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Servidores do Detran e instrutores de autoescolas são alvos de operação contra venda de CNH no PI; alunos tinham mão marcada, diz polícia

Servidores do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PI) e funcionários de autoescolas foram alvos da Operação “Cribelo”, que investiga a venda de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) no Piauí. A ação foi deflagrada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-PI) em Teresina e José de Freitas. Um dos alunos que participava do esquema tinha a mão marcada para ser reconhecido durante o exame de direção, segundo a Polícia Civil.

Ao todo, 17 suspeitos foram presos na manhã desta quinta-feira (28): sete instrutores, seis examinadores do Detran, dois despachantes e outras duas pessoas que compravam veículos com o dinheiro recebido. Em nota, o Detran afirmou que colabora com a investigação e investe em tecnologia para “maximizar a transparência e segurança dos usuários” (leia ao fim da reportagem).

Durante a investigação, a polícia descobriu que a instrutora de uma autoescola orientou um aluno sobre como se comportar durante o exame para conseguir a CNH. Em um áudio, ela afirmou que o candidato deveria pagar uma quantia em dinheiro para ser aprovado – parte desse valor seria repassado aos examinadores do Detran.

Servidores do Detran e autoescolas são alvos de operação contra venda de CNH — Foto: Divulgação/SSP-PI

Servidores do Detran e autoescolas são alvos de operação contra venda de CNH — Foto: Divulgação/SSP-PI

Um vídeo obtido pelos investigadores mostra ainda o momento em que uma examinadora do Detran recebe discretamente um papel de um despachante do setor de CNH. Para a polícia, isso evidencia uma troca de favores envolvendo pagamento para aprovação no exame de direção.

“Nas imagens, é possível identificar que o candidato estava com a mão esquerda marcada para ser reconhecido pelos examinadores. A investigação não deixa dúvidas de que ele pagou uma quantia em dinheiro para ser aprovado no exame”, afirmou o delegado Roni Silveira.

Alunos pagavam entre R$ 400 e R$ 1 mil

Conforme o delegado Filipe Bonavides, coordenador-geral da Força Estadual Integrada de Segurança Pública (Feisp), essa era uma das formas de atuação no esquema criminoso, mas a polícia teve acesso a vídeos que mostram outras maneiras: toques, gestos, sinais e até alteração de notas.

“Havia o pagamento de valores em espécie e comprovantes de Pix. Os valores começavam em R$ 400 e chegavam a até R$ 1 mil, dependendo da categoria da CNH e do perfil do candidato. Muitos eram levados a pagar porque tinham receio de serem sabotados [no exame] se não fizessem”, contou.

Metade do dinheiro ficava com os responsáveis por convencer os candidatos a pagarem pelo esquema, enquanto a outra metade era destinada aos examinadores do Detran.

Bar onde negociações de venda de CNH aconteciam é interditado em Teresina — Foto: Divulgação/SSP-PI

Bar onde negociações de venda de CNH aconteciam é interditado em Teresina — Foto: Divulgação/SSP-PI

Além das prisões e buscas e apreensões, dois estabelecimentos comerciais tiveram as atividades econômicas suspensas: uma autoescola e um bar que fica em frente à garagem do Detran na Zona Sul da capital, onde as negociações ilícitas aconteciam. Segundo a polícia, o genro do dono do bar era responsável por fazer esses acordos.

Os seis servidores do Detran presos também foram afastados de suas funções e tiveram bens sequestrados. De acordo com o delegado, mesmo quando a prisão temporária terminar, eles ainda não poderão voltar a trabalhar no órgão. Um total de 22 veículos de alto padrão, celulares e valores em espécie foram apreendidos.

“A gente notou uma discrepância patrimonial entre o salário dessas pessoas e a vida que ostentavam. Houve quebra de sigilo bancário para pedir o sequestro de bens”, complementou Filipe Bonavides.

CNHs podem ser suspensas, alerta Detran

Departamento Estadual de Trânsito do Piauí (Detran-PI) — Foto: Mariana Alves/G1

Departamento Estadual de Trânsito do Piauí (Detran-PI) — Foto: Mariana Alves/G1

A diretora-geral do Detran-PI, Luana Barradas, estimou que cerca de 5 mil CNHs foram obtidas de maneira ilegal durante o período da investigação policial. Ela declarou que, ao final do inquérito, os documentos podem ser identificados e suspensos.

“A gente está esperando a finalização da investigação para ter todos os dados em mãos. Mas, de antemão, já vamos fazer o afastamento administrativo de todos os envolvidos. Hoje, com a nova plataforma do Detran, temos um sistema totalmente auditável e transparente para colaborar com a SSP”, apontou a diretora.

Os suspeitos presos temporariamente devem responder pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e associação criminosa. Eles foram encaminhados à sede da SSP, na Zona Leste de Teresina.

A operação foi realizada pela Superintendência de Operações Integradas (SOI) da pasta, que contou com apoio da Polícia Civil e da Polícia Militar.

Confira a íntegra da nota do Detran-PI:

O Detran-PI ressalta que tem colaborado com as investigações no âmbito da Operação Cribelo, deflagrada pela SSP-PI, e que é um dos interessados no combate às práticas criminosas dentro dos processos de aquisição de CNH. Para isto, tem investido em tecnologia, para maximizar a transparência e segurança aos usuários.

A implementação da baliza eletrônica, por exemplo, que é o exame prático todo monitorado por câmeras, onde o aluno só inicia e finaliza o teste com biometria digital e facial, dele e do examinador, possibilitou maior transparência no processo de obtenção de CNH no Detran-PI. Iniciada no segundo semestre de 2023, a ferramenta auditável ajuda a coibir crimes, pois tudo é monitorado em tempo real.

Foi a partir da percepção de comportamentos incompatíveis no transcorrer de exames práticos, monitorados por esse sistema eletrônico, que o Detran acionou as forças de segurança pública e passou a colaborar para a investigação que culminou na Operação Cribelo.

O Detran ressalta que vem investindo na transformação digital do fluxo de processos, documentos e serviços, visando maior seguridade de dados de seus usuários e veículos, bem como a lisura de suas atividades, buscando resguardar os interesses do cidadão.

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