Em meio aos 412 anos de história de São Luís, os becos da cidade se revelam como verdadeiros guardiões de memórias e tradições. O Beco da Bosta, famoso por suas histórias populares; o Beco de Catarina Mina, que homenageia o símbolo de resistência e força da mulher negra; o Beco da Prensa, testemunha do passado econômico de São Luís; e o Beco do Quebra-Bunda, repleto de lendas urbanas, formam um mosaico cultural que retrata a essência ludovicense.
Os becos foram criados para servir de ligação entre as ruas maiores. Os historiadores contam que a cidade foi crescendo em cima de pequenos morros em um terreno acidentado, onde os becos surgiram como uma alternativa de caminho mais curto. Essas vielas ganharam nomes de importantes moradores da redondeza ou se popularizaram pela história que acontecia nesses locais.
Em entrevista ao g1, o historiador Euges Lima, fala da importância quem tem por trás da história dos Becos de São luís.
”Os Becos de São Luís conectam ruas, mas também histórias e memórias que moldam a identidade da nossa capital, enfatizando a importância histórica e cultural ”, afirma o historiador Euges Lima.
Para mostrar um pouco dessa história, o g1 listou quatro becos que contam um pouco da trajetória das ruas que conectam São Luís.
Beco de Catarina Mina
Beco Catarina Mina, em São Luís (MA) — Foto: Arquivo pessoal/Gustavo Serra Silva
Esse beco é um dos mais emblemáticos de São Luís e carrega uma rica herança cultural. Ele é nomeado em homenagem a Catarina Mina, uma mulher negra que se destacou por sua força e resistência. Catarina foi uma importante figura na luta contra a escravidão e é lembrada por sua bravura e pelo papel na defesa dos direitos da população negra.
O beco não é apenas um espaço físico, mas também um símbolo da luta por liberdade e igualdade. Ele reflete as experiências e histórias da comunidade afro-brasileira em São Luís, sendo um ponto de referência para a valorização da cultura negra na cidade. Além disso, o local costuma ser associado a eventos culturais e manifestações artísticas que celebram essa história.
‘’O “Beco de Catarina Mina,” assim é a denominação mais correta , tem esse nome devido a sua ilustre habitante, que possuía um próspero armazém no Bairro da Praia Grande, nesse endereço, no século XIX. Ex-escravizada, Catarina Rosa Ferreira de Jesus com muito esforço e trabalho árduo conseguiu comprar sua liberdade e acumulou uma pequena fortuna. Virou uma dama afro respeitada na sociedade ludovicense do Maranhão oitocentista. Daí se origina o nome do Beco, que mais primitivamente chamava-se Rua da Calçada. Catarina Mina, como era mais conhecida, faleceu em 1886’’, disse o historiador Euges Lima
Beco da Bosta
Beco da Bosta, São Luís — Foto: Reprodução
Esse beco é famoso tanto por seu nome peculiar quanto por suas histórias e lendas. Durante a escravidão, ele era um caminho utilizado pelos escravizados para o transporte de excrementos de seus senhores. O Beco funcionava como uma ligação entre as ruas do Centro de São Luís e a então Praia do Caju (Av. Beira-Mar), local de destino dessas fezes.
“O Beco da Bosta recebeu essa denominação porque era a passagem dos escravizados que levavam os excrementos de seus senhores para serem jogados na Praia do Caju (Av. Beira-Mar). Esses escravizados eram conhecidos como ‘Tigres’, devido às manchas brancas na pele que ficavam em seus corpos por conta dos resquícios de excrementos que escorriam dos vasilhames, dando essa aparência rajada, semelhante às listras de um tigre”, afirma o historiador Euges Lima.
Beco da Prensa
Beco da Prensa — Foto: Adriano Soares/ Grupo Mirante
O Beco da Prensa tem uma história interessante que se entrelaça com o desenvolvimento econômico da cidade. O nome do beco vem do fato de que, em um prédio localizado nesse local, o empresário João Gualberto da Costa instalou a primeira prensa de algodão da cidade. Essa prensa foi fundamental para a produção e o comércio de algodão na região, contribuindo para o crescimento econômico de São Luís durante o século XIX.
Além disso, o beco também é conhecido por sua conexão com a história da escravidão. Em um dos sobrados do Beco da Prensa, a famosa Dona Ana Jansen mantinha seus escravizados. Ela foi uma figura importante na sociedade ludovicense.
“O Beco da Prensa ficou conhecido com esse nome porque nele foi instalada a primeira prensa de algodão da província do Maranhão, de propriedade do fazendeiro e empresário João Gualberto da Costa”, disse o historiador Euges Lima.
Beco Quebra-Bunda
Beco do Quebra-Bunda — Foto: Divulgação/ Biné Morais
O Beco Quebra-Bunda, em São Luís, é famoso tanto pelo seu nome quanto pelas histórias que o cercam. Ele ganhou esse nome curioso devido ao fato de que, antigamente, a passagem era estreita e cheia de buracos, o que fazia com que as pessoas, especialmente aquelas que estavam em cima de burros ou mulas, descessem e subissem as calçadas com cuidado para não caírem ou baterem os seus glúteos ou costas no chão.
Esse beco também faz parte do Centro Histórico de São Luís e carrega uma rica herança cultural. É um local que faz parte das tradições e histórias da capital ludovicense.
“Beco do Quebra-Bunda – Este é um dos becos mais pitorescos da cidade de São Luís. Servia de ligação entre o antigo Largo do Carmo (Praça João Lisboa) e a Rua da Palma. Tem vários nomes: Beco do Quebra-Bunda, Beco do Quebra-Costas e Rua João Vital de Matos (proprietário de uma histórica farmácia nas proximidades). A origem do nome irreverente vem do fato de o beco ter sido muito íngreme no passado e causar bastante quedas aos transeuntes incautos, que, ao cair, batiam com seus glúteos ou costas no chão”, disse Euges Lima.
Fonte: G1